BÍBLIA E PEDAGOGIA GREGA EM DIÁLOGO

BÍBLIA E PEDAGOGIA GREGA EM DIÁLOGO

 

Jacir de Freitas Faria [1]

 

Introdução

Falar e pensar educação nos remete, inevitavelmente, aos gregos. Foram eles que primeiramente pensaram a educação de modo sistematizado. A esta cultura milenar se deve o valor dado ao esporte com ponto de partida de uma educação que evoluiu para a música, a aritmética, a geometria, a leitura, a formação ética, moral e filosófica, chegando ao cidadão livre, que pensa, argumenta, participa da vida social na polis (cidade) a partir da formação ampla recebida, a Paideia.

Repensar a educação na perspectiva religiosa e humanista exige de nós uma volta às fontes dos ensinamentos judaicos e cristãos, na estreita relação entre ambos e nas influências recebidas e acrescentadas ao pensamento grego helenístico. Ousaremos entender, para tanto, a educação nas perspectivas grega, judaica e cristã ao longo dos séculos em que se estabeleceu a Paideia grega helenística, sua cristianização e formação da cristandade helenizada, em textos bíblicos canônicos – aqueles considerados inspirados –, e os apócrifos[2], escritos concomitantes e imediatamente posteriores à Paideia helenística.

 

  1. 1.     Educação no mundo grego: do ginásio à Paideia grega helenística

 

A civilização grega se formou entre os anos 2500-1100 antes da Era Comum (a.E.C.),[3] período cunhado de Pré-Homérico. Já os poemas de Homero, Ilíada e Odisseia retratam o período chamado de Homérico (1100-800 a.E.C.). O período Arcaico (800-500 a.E.C.) é quando ocorre a escrita, a utilização da moeda, o uso da lei e formação da polis, as cidades-estados. O período Clássico (500-400 a.E.C.) é considerado o apogeu da civilização grega e o Helenístico (336-147 a.E.C.), objeto de estudo, a fase de sua decadência, visto negativamente; ou positivamente, a fase de uma nova visão do ser humano. Helenismo, do grego helenikós, é um adjetivo derivado de Hélade, nome da antiga Grécia, e significa o resultado da fusão entre os elementos culturais gregos e orientais, a partir do qual se deu um novo modo de pensar e educar grego, a paideia helenística.

A educação no mundo grego tem a ver com as relações sociais nas praças, na política, na religião, na vida pública e, sobretudo, na prática de esportes, os quais ocupavam, no tempo antigo, a metade do tempo utilizado para a educação. Os esportes eram praticados de diferentes modos e em locais específicos, chamados de palestra e ginásio. Ginásio vem do grego gimnos e significa ‘nu’, visto que os esportes eram praticados por despidos. Quando a educação se ampliou para outras áreas do saber: música, geometria, matemática, astronomia etc., o substantivo ginásio passou a significar a educação secundária.

É dos gregos a origem do substantivo pedagogia, termo composto por paidos (criança) e agogé (condução), daí “condução de criança”. Uma criança grega, sobretudo as mais ricas, tinha um escravo chamado de paidagogós (pedagogo), encarregado de ser o tutor dela, de conduzi-la pela mão. Ainda no escuro do amanhecer, o pedagogo/escravo ajudava a criança a se lavar, com ajuda de uma lanterna, e a acompanhava até à palestra, local onde toda a parte da manhã era ocupada com aulas de ginástica e de música. Na parte da tarde, após o banho e almoço, a criança era reconduzida ao mesmo local para aulas de escrita e leitura. O pedagogo acompanhava, conduzia a criança até os dezesseis anos de idade. 

O sistema antigo de educação grego adquiriu, ao longo dos séculos, a união entre a busca da perfeição física e intelectual, por meio de uma pedagogia que considerava também a formação a partir de valores e leis. Formava-se para a guerra, a partir do rigor da educação física, e para a intelectualidade. Esparta se enquadra na primeira opção, e Atenas, na segunda.

A educação grega (Paideia) tem vários estágios. Na Grécia antiga, a Paideia era fundamentada na ginástica. Já no período clássico, ela passa por vários momentos. Primeiramente, temos o Arete, que consiste em transformar o educando em um herói, dotando-o de qualidades físicas, espirituais e morais, como a força, a destreza e a capacidade de persuasão. O homem ‘bom’, virtuoso por excelência, é aquele que atingiu o arete.

Do Arete passa-se ao Kalokagathia – de kalos: beleza e kagatos: bondade –, que consiste na aquisição da beleza física do corpo através do esporte e da integridade da alma, por meio da música. A esses dois componentes foi agregado o ensino da gramática. A moral acompanhava o ensinamento da criança e do jovem grego. Com a ginástica e após a sua prática se aprendia a harmonia do corpo e do espírito, seja por meio de um professor ou dos mais velhos, com os quais se debatia, após as aulas, a sabedoria e a arte de discutir ideias. Por meio da música e da gramática, o jovem tinha contato com a poesia, por exemplo, de Homero, as quais ensinavam valores heroicos e morais.

Assim, a Paideia Clássica (500-400 a.E.C.), do substantivo paidós (criança), significa “criação de crianças”, mais precisamente: formação do homem também como “cidadão perfeito, capaz de mandar e obedecer, tendo a justiça com fundamento”, como bem definia Platão. 

Paideia torna-se a cultura que decorre de uma educação baseada na formação de hábitos nos jovens para uma vida em liberdade na polis. Liberdade que se caracteriza pelo uso da palavra dita de forma autônoma, em meio aos conflitos humanos e com a devida argumentação, diferentemente daquela palavra dita de forma mitológica. Foi desse processo que nasceu filosofia grega, a “filha da cidade”, que ganhou as academias das palavras, que produzia o saber a partir das discussões. O grande estudioso da Paideia grega, Werner Jaeger, afirma que:

 

para traduzir o termo Paideia, não há como evitar o emprego de expressões modernas como civilização, tradição, literatura ou educação; nenhuma delas coincidindo, porém, com o que os gregos entendiam por Paideia. Cada um daqueles termos se limita a exprimir um aspecto daquele conceito global. Para abranger o campo total do conceito grego, teríamos de empregá-los todos de uma só vez. (WERNER, 2003, p.1)

 

A Paideia, no período helenístico, ganha uma nova roupagem. Ela passa a ser o modo utilizado para formar culturalmente o cidadão grego e os povos conquistados no período helenístico. Paideia grega helenista pode ser definida como “educação geral” na linha do homem culto e menos desportista e belo. O papel do pedagogo se aprimora. Da junção das academias e liceus nasceram universidades, como a de Atenas, que se tornou forte centro de formação, de cultura e de intelectualidade, até mesmo no período romano. A preocupação pedagógica era com a formação ampla do educando, tornando-o um homem culto, com matérias humanistas: gramática, retórica e dialética; científicas: aritmética, música, geometria e astronomia; além da filosofia e da teologia, no período da Paideia cristã.

A Paideia grega helenística é sinônimo de estudos, interpretações e pesquisas especializadas feitos por sábios, filósofos e matemáticos do período helenístico, vindo a ser o que chamamos hoje de “ensino superior”. E é por isso que o período helenístico não mais pode ser considerado como tempo de decadência cultural da Grécia, considerando a sua relação com o período clássico.[4]

Helenismo é designado atualmente como o berço da Paideia humanista. O helenismo provocou uma mudança de mentalidade no mundo grego, que se tornou cosmopolita, universal. E foi nesse processo educativo que o indivíduo passou a conceber-se como parte de um todo e protagonista no processo de gestação da nova sociedade.[5]

Duas correntes filosóficas gregas, o epicurismo e o estoicismo, exerceram, a partir de suas escolas, forte influência na formação do indivíduo, no período helênico e no cristianismo. Diante das mudanças levadas a cabo por Alexandre Magno, o homem grego deveria se resguardar.

Do epicurismo, além de outros modos de educar para a formação integral do ser humano, destacam-se: a visão de que o homem pode conhecer pela sua inteligência; obter felicidade por si mesmo, sem a ajuda de instituições e deuses, bem como a partir de bens materiais; para obter o prazer, são permitidos somente aqueles que são necessários para manter a vida (comer, beber, repousar); não temer a morte e nem aos deuses etc.

Do estoicismo veio, dentre outras, as seguintes formas de pensar: direitos natural e humano; a felicidade é o viver segundo os princípios da natureza; deve-se resistir no sofrimento; a necessidade de oração e meditação diárias; a não busca do prazer sexual; o ser humano deveria viver, de preferência, castamente e em abstinência. Essa última visão de educação estoica marcou profundamente o cristianismo emergente.

O judaísmo, confrontado com a Paideia helenística, assumiu posturas de repulsa e de adesão. O educador judeu, sábio e pensador, baseou a formação em valores morais, na tradição e na Torá. O cristianismo, por sua vez, deu continuidade ao modo judaico de assimilar o helenismo e o aprimorou com os valores cristãos da ética, da liberdade, das relações justas e fraternas etc.

A literatura bíblica, canônica ou apócrifa, produzida entre os séculos II a.E.C. ao século II E.C., reflete as relações entre as propostas de educação e a visão de ser humano no mundo grego, no judaísmo e no cristianismo.

 

  1. 2.     Educação no mundo bíblico: da Torá ensinada na família à escola de sabedoria

 

Se na educação grega, a ética, os valores, as virtudes, a poesia e a retórica eram ensinadas aos jovens filhos da classe dominante, na pedagogia israelita os ensinamentos eram passados de forma mais comunitária, sendo a sinagoga o lugar privilegiado da transmissão de valores já estabelecidos previamente. A família, por sua vez, era o espaço em que, de primeiro, o filho era educado. Ao filho bastava seguir os ensinamentos dos pais, que eram os transmissores da aliança estabelecida pelos seus antepassados com Deus. Daí o caráter sagrado da pedagogia israelita.

Garantir a aliança é ensinar valores que mantinham Israel como povo eleito. Um caminho devia ser ensinado a todos os filhos. A esse caminho se deu nome de Torá. Mais do que Lei, como comumente é traduzido, Torá significa conduta, caminho a seguir. Seguir a Torá e deixar-se ser educado por ela significa cumprir a aliança estabelecida entre Deus e seu povo Israel, escolhido dentre tantos outros para levar a santificação a todos os povos.

A Torá pode ser entendida como o Pentateuco – os cinco primeiros livros da Bíblia: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio –, ou os 39 livros do Primeiro Testamento; ou ainda os ensinamentos dos sábios judeus. O judaísmo considerava essencial o ensino da Torá na formação do povo, o que garantiria o cumprimento da aliança estabelecida no passado. O autor do livro do Eclesiástico, escrito da época da Paideia grega helenística, escreve que “a Lei, os Profetas e os outros que os seguiram nos deram muitas e grandes lições. É graças a eles que se deve louvar Israel por sua instrução e sabedoria” (Eclo 1,1). O judeu e fariseu, Saulo de Tarso, que se converteu ao cristianismo, após um encontro com o ressuscitado, teve o nome mudado para Paulo, e escreveu ao seu filho amado na fé e discípulo (aluno), Timóteo: “Toda a Bíblia (Escritura) é divinamente inspirada e útil para ensinar, repreender, corrigir e educar na justiça” (2Tm 3,16).

Assim como a educação grega (Paideia) passou por várias fases, a educação em Israel recebeu influências em épocas distintas, como no tempo dos juízes (1210-1030 a.E.C.), passando pelos períodos das monarquias unida e dividida (1030-587 a.E.C.), tempo do exílio na Babilônia (587-538 a.E.C) e de reconstrução do país, sob o domínio dos persas (538-333 a.E.C), domínio grego de Alexandre Magno (333-323 a.E.C.) e de  seus generais que o sucederam, os quais impuseram o modo pensar grego helenístico aos israelitas, o que provocou a revolta judaica dos Macabeus (167-140 a.E.C.).

Como vimos acima, no antigo Israel a educação acontecia na família, onde se devia transmitir a tradição e a fé aos filhos. No entanto, educação propriamente dita era reservada para os filhos homens, os quais deviam aprender o ofício do pai e receber dele a educação necessária (1Sm 16,11). Às filhas bastava aprender os ofícios domésticos.

Ensina o Eclesiástico:

 

Tens filhos, educa-os; ensina-os a obedecer desde a infância. Tens filhas? Vela por seu corpo; e não alegres diante delas o teu rosto. Casa tua filha e terás cumprido uma grande tarefa; mas entrega-a a um homem sensato (Eclo 7,23-25).

 

A função do pai como educador, aquele que mostra o caminho, consistia em: levar o filho para as sinagogas e peregrinações religiosas a Jerusalém (1Sm 1,24); repassar os ensinamentos dos antepassados (Sl 78,3-6); ensinar o temor do Senhor; conservar e viver da memória do êxodo libertador dos antigos (Dt, 6,7; Ex 10,2).

A educação na casa paterna tinha como objetivo levar o filho a adquirir sabedoria. Ao filho cabia a memorização e a vivência paulatina desses ensinamentos, guardando-os na tábua do coração (Pr 3,3). Ao pai também era concedido o uso da vara para o com o filho desobediente. Escreveu o autor de Pr 13,24: “Quem poupa a vara odeia seu filho, mas quem o ama corrige-o desde cedo”. E ainda: “Não deixe de corrigir a criança, mesmo se bateres com a vara, salvarás sua vida da morada dos mortos” (Pr 23,13-14). O filho que não aceitasse a educação do pai, tornando-se devasso e beberrão, poderia ser levado à porta da cidade e apedrejado pelos anciãos da cidade (Dt 21,18-21).

A escola como parte integrante da vida social de Israel parece ter tido espaço somente no período helenístico, devido à influência da Paideia. Eclo 51,23 fala de escola. “No início do cristianismo são atestadas mais escolas na sociedade judaica. O judaísmo rabínico prima pela relação entre mestre e discípulo, o que nos leva a pensar numa escola de sabedoria, na qual os mestres recebiam pelos ensinamentos.” [6]

 

  1. 3.   Paideia grega helenista no judaísmo e no cristianismo

 

Quando Alexandre Magno, da Macedônia, em 333 a.E.C., conquistou todo o oriente Médio, inclusive a Palestina, uma mudança radical ocorreu na região. Como vimos acima, o pensamento grego helenista foi globalizado. Nasceu a Paideia helenista, a educação que chegaria para fundir o pensamento do oriente com o do ocidente. O menino Alexandre, educado por Aristóteles, transformou-se em um adulto apaixonado pelas coisas gregas, levado adiante pelo seu ideal pan-helênico.[7]

Muitos judeus, assim como outros dominados, se encantaram com a cultura e a civilização grega. Alguns chegaram a perder a identidade nacional. Entre os judeus, ocorreram dois movimentos. O primeiro diz respeito aos que residiam na Palestina, os quais tinham uma acentuada resistência à cultura grega. O segundo, composto dos judeus da diáspora – aqueles viviam fora da Palestina –, aceitou e assimilou muitos valores da nova cultura. Foram esses que, mais tarde, no tempo do Segundo Testamento, chamados de judeus helenistas, ajudaram, sobremaneira, na elaboração e na expansão da teologia cristã com elementos da Paideia helenística (At 6,1).

Por ser um movimento urbano de criação de cidades, as quais conferiam cidadania ao ser humano a partir da vida política e da educação, o helenismo chegou à Palestina construindo cidades gregas com templos, teatros e os famosos ginásios, onde, como dissemos anteriormente, os desportistas gregos praticavam nus os esportes. A rejeição dos judeus não era tanto com os esportes gregos, mas com o fato de eles terem que expor sua circuncisão. Muitos chegaram a fazer cirurgias para reverter os sinais da circuncisão que os gregos consideravam como mutilação. O esporte foi um dos modos utilizados para expandir os padrões gregos de comportamento, com os grandes jogos e festivais pan-helênicos.

O grego popular chamado de koiné passou a ser falado nas cidades gregas. Por volta do ano 284-246 a.E.C., a Bíblia hebraica foi traduzida para o grego, a pedido do rei Ptolemeu II que queria sua versão grega para a biblioteca de Alexandria, no Egito, tendo em vista a presença, ali, de judeus, desde o tempo do Exílio (587-536 a.E.C.). O grego passou a ser adotado como língua dos judeus do Egito. Essa tradução, conhecida como Setenta (LXX), tornou-se necessária no processo de helenização do judaísmo da diáspora. O Segundo Testamento foi escrito em grego, a partir do ano 60 E.C., o que também possibilitou a expansão do cristianismo no mundo grego. Mais diretamente relacionado com a cultura grega, temos o evangelho de Lucas que foi escrito para um público de notória influência e de cultura grega. Ele foi uma tentativa de mostrar valores cristãos ao modo grego de ser e pensar.[8]

O helenista Antíoco IV, que governou a região da Síria, incluindo a Palestina, entre os anos 175 e 164 a.E.C, escandalizava a comunidade judaica que não aceitava a helenização. Os judeus resistiam enquanto podiam. O sumo sacerdote Onias conseguiu manter a paz (2Mac 3,1). Fato que não ocorreu com o seu irmão, Josué. Este, demonstrando a sua helenização, mudou o seu nome para Jasão, comprou a função de sumo sacerdote e tomou medidas helênicas na Palestina. Ele construiu um ginásio ao pé do templo, onde jovens despidos praticavam esportes e cultivavam artes acadêmicas. Tudo isso era um escândalo aos olhos dos Judeus. Eis o que nos atesta o autor do livro de Macabeus:

Havendo passado Seleuco a outra vida, e assumindo o reino Antíoco, chamado Epífanes, Jasão, irmão de Onias, lançou mão de meios fraudulentos para usurpar o sumo sacerdócio. Em entrevista com o rei, prometeu-lhe cerca de dez mil quilos de prata, e ainda dois mil provenientes de outras rendas. Comprometeu-se, além disso, a pagar mais quatro mil, se lhe fosse concedido pela autoridade real fundar uma praça de esportes e um clube de jovens, e fazer a inscrição dos “antioquenos” de Jerusalém. O rei consentiu. Jasão assumiu o poder e imediatamente começou a levar seus compatriotas a viverem à moda grega. (2Mac 4,7-10)

 

As lutas internas judaicas favoráveis e contrárias à helenização continuaram. Jerusalém foi conquistada, os sacrifícios no templo suspensos, e o mesmo dedicado a Zeus Olímpico. A circuncisão foi proibida, os livros sagrados queimados, e os fiéis observadores das tradições judaicas, perseguidos até a morte (2 Mac 6,1; Dn 11,31-33). Muitos judeus morreram martirizados. Ficou conhecido o caso de Eleasar e seus sete irmãos (2Mc 6-7). Foi nesse contexto que se organizou a revolta judaica dos Macabeus (167 a 142 a.E.C.).

Quando os romanos dominaram os helenistas (69 a.E.C.) e, consequentemente, a Palestina, a pedagogia grega helenística Paideia já tinha feito muitos adeptos entre judeus. Por outro lado, os romanos também assimilaram valores da helenização. Lideranças judaicas tentaram retomar a cultura judaica. A cultura helenista exerceu sobre os judeus repulsa e atração.

 

  1. 4.     Reflexos da Paideia em textos bíblicos canônicos e apócrifos

A Paideia grega helenística exerceu influência na elaboração de textos bíblicos canônicos e apócrifos.

A educação judaica está relacionada diretamente com literatura bíblica de cunho sapiencial. O movimento sapiencial em Israel teve seu início na época de Salomão (séc. X a.E.C.). Uma de suas finalidades primeiras era a formação, a educação do jovem para tornar-se justo diante de Deus. A Torá (Gn, Ex, Lv, Nm e Dt) ofereceu princípios na relação libertadora com Deus; os profetas denunciaram os desvios do caminho; e o movimento sapiencial ofereceu balizas para a formação do judeu, de modo que ele não se desviasse do caminho. Esse movimento recebeu influências do mundo extrabíblico? Claro que sim. Do Egito, que baseava sua sabedoria no maat – a justiça –, vieram os instrumentais pedagógicos da formação do jovem faraó.

Os livros sapienciais são: Provérbios, Sabedoria, Eclesiástico, Eclesiastes, Jó, Cântico dos Cânticos e alguns Salmos. Já Rute, Judite, Ester, Jonas e Tobias foram escritos no ambiente sapiencial.

A literatura apócrifa é vasta. Vários escritos judaicos e cristãos se formaram ao longo dos séculos, começando pelo fim do período grego helenístico e se estendendo até o século VIII E.C. Trata-se de 140 livros distribuídos no Primeiro e Segundo Testamentos. Eles podem ser classificados em aberrantes, complementares e alternativos em relação aos canônicos. [9]  

Para o nosso estudo dessas literaturas no contexto da Paideia grega helenística, ater-nos-emos aos livros de Eclesiastes, Eclesiástico, Sabedoria, Testamento dos Doze Patriarcas e Cartas de Paulo a Sêneca.

 

4.1 Eclesiastes

Escrito por volta do ano 250 a.E.C., Eclesiastes ou Coélet, como também é chamado – por significar “aquele que fala em nome da assembleia” –, é uma manifestação da comunidade judaica contra a opressão helenista que levava “muitos a correrem atrás do ganho fácil, buscando os lucros com ganhos e corrupção (10,19)”[10] e o modo de pensar o ser humano – Paideia helenística –, a qual levava o povo a perder a sua identidade. Tomemos o segundo ponto, visto que esse é o objeto de nosso estudo.

A tradição religiosa judaica, de cunho monoteísta, não poderia compactuar-se com o politeísmo grego. Educar um judeu era, fundamentalmente, levá-lo a crer em um único Deus, Aquele que fez aliança eterna com o povo judeu.

O conhecimento adquirido pela Paideia helenista colocava o valor em si mesmo. Já Eclesiastes ensina que o conhecimento tem sentido enquanto sabedoria que nos leva a discernir a realidade que nos cerca (1,12-18; 2,12-17). Quanto mais conhecimento o homem adquiri, mais ele sofre (1,18). Em relação ao prazer do corpo como um bem, o livro conclui que isso é pura vaidade (2,1-3).

A educação para o judeu também se dava pelo trabalho manual. A Paideia helenística ensinava que trabalho era somente o intelectual, o manual era coisa de escravo e não tinha valor. A escola judaica do Eclesiastes ensinava que o trabalho era o caminho da felicidade humana, desde que o ser humano pudesse usufruir o produto do seu trabalho. “E compreendi que não há felicidade para o ser humano a não ser a de alegrar-se e fazer o bem durante a sua vida. E que o ser humano coma e beba, desfrutando do produto de todo o seu trabalho, é dom de Deus” (3,12-13). Vida feliz é aquela que sabe desfrutar os produtos de seus trabalhos, sem o acúmulo e com dignidade. Todo o resto é pura vaidade, fugacidade.[11]

Contra o dualismo grego, Eclesiastes ensina que na vida há um tempo para tudo: plantar e colher; chorar e rir; chegar e partir (3,1-8). A sabedoria consiste em discernir esses momentos e vivê-los com intensidade. Em relação ao individualismo, Eclesiastes ensina que a vida é para ser vivida em comunidade: “mais vale dois que um só, porque terão proveito de seu trabalho. Porque se caem, um levanta o outro, mas que será de alguém que cai e não tem companheiro para levantá-lo? Se eles se deitam juntos, podem se aquecer; mas alguém sozinho como vai se aquecer?” (4,9-11).

A Paideia helenista ensinava que a alma era imortal. Essa máxima conferia sentido à vida. Eclesiastes, por outro lado, faz duras afirmações a esse respeito: “Os mortos não sabem que irão morrer e nem terão recompensa, porque a memória deles cairá no esquecimento (9,5). Ninguém se lembra dos antepassados, e também aqueles que lhes sucedem não serão lembrados pelos seus pósteros (1,11). Não há lembrança durável do sábio e nem do insensato, pois nos anos vindouros tudo será esquecido: o sábio morre com o insensato” (2,16). Nessas passagens, Eclesiastes reflete sobre a memória dos mortos. Na sociedade da época, acreditava-se que, no mundo dos mortos, no Xeol, havia também divisão de pessoas.

Para tanto, criou-se a “imortalidade mnemônica”, ou seja, a virtude do falecido era perpetuada na memória dos pósteros e inscrita em tábuas de pedra. Os mortos continuavam vivendo na lembrança de seus descendentes e amigos sobreviventes, ou, mais ainda, porque o nome deles ficava escrito em tábuas de pedra.  Assim, ninguém poderia esquecer o morto. Seria como as lápides que colocamos, ainda hoje, em cemitérios. Contra essa visão, Eclesiastes nega a possibilidade de memória eterna. No Xeol, o mais famoso dos reis se assentará com o mendigo. Essa terrível afirmação tem o endereço certo, o que vale é a vida presente. Ela sim deve ser igual para todos. Ninguém pode, além de cometer injustiças contra o outro, ainda achar que o seu poder continuará após a morte.  

A morte é um elemento chave na interpretação do livro de Eclesiastes. Para falar da vida e de todo o seu sentido, ele fala da morte. Porque existe a morte, a vida deve ser vivida intensamente. Tudo que não leva a vida a ser vivida intensamente é ‘vaidade das vaidades’.  A morte dá sentido à vida. A partir da morte se descobre a vida. Porque o autor de Eclesiastes propõe viver intensamente sem se preocupar com o que vem depois, ele não pode ser chamado de pessimista. O seu otimismo consiste em que o seu leitor, compreendendo a sua reflexão, dê um novo sentido à sua vida, tendo os pés no aqui e agora. O autor de Eclesiastes não perde noites de sono pela vida do além. Esta, ele não a conhece e dela não pode falar. Eclesiastes mostra que o sentido da vida está mais próximo de nós do que imaginamos. Falar da vida é falar de Deus. Nas palavras poéticas e realistas sobre a morte, Eclesiastes revela um Deus próximo de cada um de nós, que nos oferece a vida e as condições para vivê-la com intensidade. Os seres humanos da sociedade de Eclesiastes é que justificaram as suas práticas injustas com reflexões sobre a vida no além.” [12]

 Por fim, no centro do livro Eclesiastes está a religião, que se resume em temer a Deus, isto é, ter reverência para com Ele, reconhecê-lo na sua diferença. Deus está no céu e o ser humano, na terra (4,17-5,6). Nisso consiste a educação do judeu. Os gregos ensinavam a não temer a Deus.

O substantivo vaidade aparece trinta e oito vezes no livro, sobretudo no início (1,2) e no fim (12,8), para reafirmar a leitura que o autor de Eclesiastes faz da realidade helenizada, tudo isso é vaidade das vaidades. Sua visão não é pessimista, mas realista. E mesmo que uma nova visão de ser humano se apresentava diante dos judeus, ela não é novidade. “Nada há de novo debaixo do sol!” (1,9b) exclama inusitado o autor de Eclesiastes. “O que foi, será, o que se fez, se tornará a fazer” (1,9a). E se essa é a condição humana, melhor permanecer nos princípios judaicos e viver a vida de forma intensa, com alegria, desfrutando do produto do trabalho, pois a morte é certeira.

 

4.2 Eclesiástico ou Sirácida

 

Escrito por volta do ano 185-180, em Jerusalém, o autor deste livro, Ben-Sirac, era um estudioso da Torá e das tradições judaicas (39, 1-3), um escriba formado na escola dos escribas, que convidava: “Aproximai-vos de mim, ignorantes, entrai para a escola” (51,23). Ben-Sirac era um professor que escreveu uma obra de alto valor teológico e moral. Ele criou escolas judaicas para contrapor às gregas, embora a sua pedagogia seja bastante conservadora, ao propor o uso do chicote e da vara para educar, assim como se doma um cavalo para se tornar tratável (30,1-13). “Mima teu filho e ele te aterrorizará”, adverte (30,8-9). 

Em relação à Paideia helenística, Eclesiástico se deixou influenciar por ela quando defende que trabalho intelectual tem mais valor que o manual. Ele enumera as profissões palestinas: agricultor, carpinteiro, construtor, ferreiro, oleiro (38,24-34). Sobre todas elas ele dá uma palavra que justifica a não possibilidade daqueles que as exercem adquirir a sabedoria: “Como se tornará sábio o que maneja o arado, aquele cuja glória consiste em brandir o aguilhão, o que guia bois e o que não abandona o trabalho e cuja conversa é só sobre gado? O seu coração está ocupado com os sulcos que traça e suas vigílias com a forragem das bezerras” (38, 24-25). Aqueles que exercem profissões manuais não têm tempo para meditar a Lei, não têm cultura, não produzem máximas e rezam a partir dos problemas de sua profissão (38,34). Por outro lado, o escriba, o de trabalho intelectual, é valorizado por pensar, produzir saber, viajar, meditar a Lei, conservar a memória da história etc. (39,1-11).

Outro elemento da Paideia helenística que influencia Ben-Sirac é a desvalorização da mulher e o seu papel na família e na sociedade. É trágica a afirmativa: “Diante de quem quer que seja, não te detenhas na beleza e não te assentes com mulheres. Porque das vestes sai a traça e da mulher, a malícia feminina. É melhor a malícia de um homem do que a bondade de uma mulher: uma mulher causa vergonha e censuras” (42,12-14). “Foi pela culpa da mulher que começou o pecado, por sua culpa todos morremos (25,24); Não dês saída à água, nem liberdade de falar à mulher má. Se a mulher não obedece ao dedo e ao olho, separa-te dela (24,25,-26)”. “É motivo de vergonha para o homem uma mulher que sustenta o marido” (2522). O judaísmo daquela época não aceitava essa visão grega, embora, em séculos posteriores, os rabinos acabaram apoiando essa visão de Eclesiástico. Além disso, é também de Eclesiástico: “O que adquire uma mulher inicia uma fortuna, auxiliar semelhante a ele, coluna de apoio. Faltando cerca, a propriedade é devastada; faltando mulher, o homem geme e vaga”. 

Os dois fatores acima expostos – valorização do trabalho intelectual em detrimento do manual e a desvalorização da mulher – contribuíram sobremaneira para a não aceitação de Eclesiástico no cânone judaico dos livros inspirados.

Por outro lado, Eclesiástico dá muito valor à memória e ao ensinamento da história como valor imprescindível na formação do judeu. Ele dedica nada menos que sete capítulos do livro aos grandes homens da história de Israel (44-50). Diante do helenismo, o judeu se via confuso e tendencioso ao mundo grego.    

Nas palavras de Ben-Sirac, o orgulho nacional é restabelecido, a identidade preservada na tradição, na cultura, na religião e na história dos antepassados. Na sua visão, a religião procura demonstrar a eternidade de Deus e o destino do homem tem a ver com a sua vida presente. A morte é punição pelo pecado. Deus escolheu e Israel e é pai de todos. A Deus se deve dar glória pela sua presença na história de Israel e na criação do mundo (43-50). Outro fato notório no ensinamento de Ben-Sirac é a ligação entre ciência e sabedoria e sua dependência de Deus, que as concede ao homem como dom. Pena que somente o escriba é valorizado por ter ciência e sabedoria. A Lei tem relação intrínseca com a sabedoria. Também valores de uma ética filosófica e de uma moral teológica são apresentados ao judeu como parte de sua formação: temor, temperança, riquezas, hospitalidade, uso da língua, preguiça, etc. O judeu que se sentia atraído pelo mundo grego é chamado a repensar a sua decisão e se manter firme na fé judaica e em seus valores.

O autor de Eclesiástico foi um conservador da fé e da tradição judaica, mesmo tendo se deixado influenciar pela pedagogia grega helenística. Interessante é o fato de seus escritos e ensinamentos terem servido de apoio para a revolta dos macabeus, em 147 a.E.C., um movimento de ‘esquerda’ dentro do judaísmo.

 

4.3 Sabedoria

 

Sendo o último livro do Primeiro Testamento, Sabedoria situa-se na encruzilhada entre o Primeiro e o Segundo Testamentos, no conflito entre as culturas judaica e helênica, mais precisamente entre os anos 30 a.E.C. e 14 E.C.

O seu autor era um judeu de língua grega, que vivia em Alexandria (Egito), na diáspora, mas que conhecia profundamente sua tradição e história, o que não impediu a influência de autores gregos, como Homero e Platão, na sua obra. Mesmo não tendo entrado no cânone hebraico, em 95 E.C., o livro da Sabedoria é um exemplo importante para entender a relação da paideia helenista com o judaísmo e o cristianismo.

Contra o politeísmo grego, o autor defende o monoteísmo como princípio fundamental da identidade judaica, apelando para a memória histórica e religiosa de seus conterrâneos que vivem longe da pátria, demonstrando que a sabedoria de Deus está presente na sua história.  

Ao fazer uso da abstração grega, o autor do livro apresenta para o seu leitor a sabedoria como fonte de felicidade e de imortalidade. Aquele que não se deixar levar pela Paideia helenista encontrará a imortalidade em Deus, que é a Sabedoria. A sabedoria salva o justo, castiga os ímpios e tem a sua presença marcante na história (10-19). A justiça é imortal. A pedagogia judaica não é outro senão a de levar o ser humano, na unicidade e não na dualidade do corpo e alma dos gregos, a procurar Deus e fugir do pecado. Aos judeus que renegam Deus e se aliavam aos gregos, o autor chama de ímpios. Esses são condenados por fazerem pactos até com a morte e se esquecerem do caminho da Torá (1,16). Esses diziam:

Inebriemo-nos com o melhor vinho e com perfumes, não deixemos passar a flor da primavera, coroemo-nos com botões de rosas, antes que feneçam... Cerquemos o justo, porque nos incomoda e se opõe às nossas ações, nos censura as faltas contra a Lei, nos acusam de faltas contra a nossa educação (2,7-8.12).

 

Diante da visão grega da imortalidade, o autor de Sabedoria ensina que o caminho que nos conduz à imortalidade é a prática da justiça, que deve ser amada e buscada por todos (1,1). Esse é o seu destino (1-5). Por outro lado, a autor concorda com a visão grega da imortalidade: “Deus criou o homem para a imortalidade” (2,23). Caso ele se deixe moldar pela sabedoria divina, ele viverá na eterna felicidade duradora em Deus (3,9).

Se a Paideia ensinava que a sabedoria era um meio para chegar ao conhecimento e a contemplação do divino, o autor de Sabedoria demonstra que ela vem de Deus, com Ele age, e é dada a nós como dom e nos coloca próximos Dele, como seus amigos (filos), assim como a “filosofia” grega nos amigos da Sophia (sabedoria). Esse é o nosso futuro e não outro. Nele devemos permanecer e nos deixar ser educados.

A influência do modo de pensar grego aparece também no livro da Sabedoria, quando o autor admite a dualidade corpo e alma: “um corpo corruptível pesa sobre a alma e – tenda de argila – oprime a mente pensativa” (9,15). Entretanto, ele acrescenta ‘tenda de argila’ para evocar a visão judaica da precariedade humana. Em outra passagem (1,4), o autor não admite dualidade, próprio da sua visão. As virtudes gregas da temperança, prudência, justiça e fortaleza são enumeradas como frutos da sabedoria. A justiça é dom Deus que conforma o ser humano à sua Lei. Essas virtudes gregas foram, mais tarde, consideradas virtudes cardeais da teologia cristã. Os ensinamentos do livro da Sabedoria influenciaram sobremaneira as teologias paulina e joanina, sobretudo no que concerne à cristologia, relação verbo (sabedoria, palavra, conhecimento), ser humano e Deus, e ao embate perene entre luz e trevas, entre a vida e a morte.

Tendo em vista que a sabedoria da Paideia helenista consiste na busca da verdade, da verdadeira sabedoria, isto é, o filosofar, o livro da Sabedoria demonstrou a ligação da sabedoria com Deus é o caminho, a conduta que o judeu devia ter para seguir a Lei e ser sábio, justo. Podemos dizer que houve um encontro entre os dois modos de pensar, o judaico da Torá e o grego da Paideia.

 

4.4 Testamento dos Doze Patriarcas

 

Escrito na Palestina, Testamento dos Doze Patriarcas é uma obra sobre a qual há duas hipóteses plausíveis de composição e autoria:

a) um judeu-cristão recolheu, por volta do ano 200 E.C., em uma coletânea de testamentos judaicos, escritos entre os anos 130-63 a.E.C., e os modificou a partir do pensamento cristão;

b) os judeus essênios de Qumran a compuseram. A letra reflete a tendência maior dos estudiosos. Por isso, Testamento dos Doze Patriarcas ilumina o período judaico-helenístico, do qual nasce o cristianismo, bem como reflete o pensamento de um particular tipo de igreja de origem.[13]  

O conteúdo do testamento dos doze filhos de Jacó, escrito em hebraico com versão grega, quando esses estavam prestes a morrer, é composto de uma parte parenética, discurso moral com exortações em relação às virtudes e vícios; outra de cunho profético-apocalíptico; e ainda outra que trata da história de Israel. Para o nosso estudo nos ateremos aos textos parenéticos, por entender que eles fazem parte da educação judaica e cristã, no contexto da Paideia grega helenística.  

Dentre os vários ensinamentos dirigidos aos jovens judeus e cristãos, em Testamento dos Doze Patriarcas, destacamos:

  1. Amar o próximo com misericórdia e temer a Deus. As tradições judaica e cristã sempre ensinaram que o amor ao próximo e a Deus resumem toda a Lei, entendida como caminho, conduta que orientava a vida de seus adeptos. Amar a Deus significa ter temor por Ele, seguir sua Lei e amar ao próximo, ensina o Testamento de Benjamim. José, do Egito, é apresentado como modelo de amor ao próximo. Mesmo tendo sido vendido pelos irmãos, ele não fez uso da vingança, mas os acolheu no Egito, quando assumiu o poder de comando (Test. de Gad, 6,3; Test. de José, 28,2; Test. de Benjamim, 4,2-3). O próximo, no ensinamento judaico de Testamento dos Patriarcas, tem nome: o compatriota. Israel somente poderá estar unido como povo se praticar a proteção mútua, se amar e exercer a misericórdia. O próximo é também o pobre e o enfermo (Test. Isaacar 5,2). Zabulon descreve em seu Testamento: “Quando chegamos ao Egito, José não nos demonstrou rancor. E também vós, meus filhos, tenham presente o seu exemplo e amai-vos uns aos outros; ninguém pague o mal com o mal. Esse vosso proceder tira a unidade e dispersa a nação/raça; obscurece a alma e destrói a face” (Test. Zabulon 8,4-6). É também em Test. de Zabulon que se encontra a interessante exortação de considerar os animais como próximos, os quais também merecem amor e misericórdia (Test. Zabulon 6,1). A educação baseada no amor ao próximo teve forte influência na elaboração de textos judaicos utilizados na formação do jovem judeu. Testamento dos Doze Patriarcas ressalta que esse proceder decorre da exigência da observância da Lei e do temor a Deus. Esses dois temas estão unidos.
  2. Observar a Lei de Deus e agir com justiça. Test. de Ruben 3,8 constata que os jovens não seguem a Lei de Deus. Seguindo a tradição judaica da observância da Torá, Test. de Isacar 5, 1-2 convoca os seus a observar a Lei de Deus e tudo que ela encerra: amar o próximo e a Deus. Seguir a Torá é agir com justiça e na verdade, o que consiste em fonte de vida para todo Israel (Test. 23,4).
  3. Não ter inveja e nem ódio. O jovem educando é admoestado a não ter inveja do outro. Testamento de Simeão relata a sua atitude nada condizente com um judeu. Ele teve inveja de seu irmão, José, e, por isso, pensou em matá-lo. Ficou com raiva de seu irmão Judá, que, ao invés de matá-lo, o vendeu aos ismaelitas (Test. Simeão 2,5-9). Simeão também ensina que a inveja domina o homem e não o deixa viver conforme a Lei de Deus (Test. Simeão 3). Test. de Gad faz um longo discurso em favor da abdicação do ódio do coração, pois quem o tem peca diretamente contra Deus. Gad relata a sua experiência com o ódio que ele deixou crescer dentro dele por seu irmão José. O ódio tem a ver com Satanás. Por isso, Gad afirma: “filhos meus, essa é a minha exortação, tirem o ódio de vosso coração” (Test. Gad, 6,1). 
  4. Obedecer aos pais e que esses eduquem seus filhos. O teor exortativo de Testamento dos Doze Patriarcas repete várias vezes o pedido aos filhos de obedecer aos pais.  Test. dos Doze Patriarcas pede aos pais que ensinem seus filhos a lerem e escreverem, tendo em vista o adquirir inteligência para estudar da Lei. 
  5. Buscar a serenidade. Test. de Dan, capítulo 4, chama a atenção para uma vida de serenidade, sem alimentar a ira em relação ao outro e, tampouco, deixar-se levar pelo elogio recebido. A serenidade da alma mantém a proximidade de Deus; o contrário faz com que Ele se distancie. A serenidade se obtém a partir do domínio de si.
  6. Viver na simplicidade de coração e no trabalho com a agricultura. Isacar relata que ele era reconhecido pelo seu pai como um homem muito simples. O fruto da terra que ele colhia oferecia aos pobres e aflitos (Test. de Isacar 3,6). Ele escreve: “Filhos meus, escutem-me, comportai-vos com simplicidade de coração, pois compreendi que nisso se encontra toda a benevolência de Deus. A simplicidade não deseja, não explora o próximo, não deseja muita comida, muitas vestes e nem vida longa, mas aceita a vontade de Deus” (Test. de Isacar 4,1-4). O ensinamento da simplicidade tem conexão com a agricultura: dar o fruto da terra para os pobres com a benevolência de Deus. O jovem é convocado a cultivar a terra e a não abandonar a agricultura, o que poderia ser fonte de mal para o povo.
  7. Estar atento ao limite do vinho. Judá, em seu testamento, chama a atenção para o fato de o vinho, quando bebido em excesso, leva o homem a perder o uso da razão. No vinho em excesso se encontram quatro espíritos malignos: desejo, ardor, luxúria e gula (Test. Judá 16,1). O seu pecado cometido com Tamar, bem como o seu casamento com uma cananeia adveio do uso indevido do vinho. “Quem bebe vinho precisa ter muita inteligência, para manter o senso de pudor”, adverte Judá (Test. de Judá, 14,7). E ainda: “Se o homem supera o limite, a mente é dominada pelo espírito do engano, que o leva a falar de maneira torpe e a transgredir a Lei, sem o senso da vergonha e, ainda mais, ele acha que está agindo bem; a revelar seus segredos e os de Deus” (14,7; 16,1).
  8. Não se deixar levar pela avareza. Judá adverte que o desejo descontrolado pelo dinheiro leva à idolatria. Judá testemunha que perdeu seus filhos por causa da avareza (Test. Judá 19).     
  9. Dominar o desejo sexual. O jovem é chamado a não se iludir com o desejo sexual, mas a dominá-lo. Ruben, em seu testamento, dá testemunho de sua atitude insensata em relação ao sexo e convoca “seus filhos” a manterem-se puros, a não correrem atrás da beleza da mulher e da fornicação. “O pecado da fornicação é a fossa da alma, nos separa de Deus e nos aproxima da idolatria”, afirma Ruben (Test. de Ruben, 4). José é tomado novamente como exemplo de homem comedido que não se deixou levar pela egípcia, a mulher de Putifar, que tentou seduzi-lo com a sua beleza. Forte, no entanto, é a afirmação de Ruben contra as mulheres: “Malvadas são as mulheres, meus filhos, visto que não têm nenhum poder sobre os homens, usam o engano da beleza para atraí-los. Aquelas que não podem seduzir pela beleza, o vencem com o engano” (Test. Ruben, 5). Ruben termina aconselhando os homens a impedir que suas mulheres se vistam com joias e adereços para seduzir os homens. Aquelas que agirem assim serão destinadas à punição eterna. Isacar testemunha que se casou aos trinta e cinco anos, não pensando no prazer da mulher, mas porque o cansaço do trabalho tirava as suas forças e ele, então, dormia (Test. Isaacar 3,5). E ele ainda testemunha no fim da vida: “Exceto minha mulher, nunca conheci (tive relações sexuais) com outra mulher” (7,2). Judá adverte aos seus filhos de não amar o dinheiro e de nem se deixar levar pela beleza da mulher, pois ele é exemplo do pecado cometido por causa da beleza da cananeia Besue (Test. 17,1). Testamento de Rubem 2, 1-9 elenca sete espíritos de engano, criados por Beliar e colocados no jovem. O último deles é o do desejo do sêmen e do coito, relação sexual. Esse espírito é o último a ser criado por Deus, mas é o primeiro para os jovens. Esse desejo leva o jovem ao pecado, guia-o como um cego ao buraco e uma ovelha ao matadouro. O desejo não conhece o conhecimento. É ignorante.       

 

Testamento dos Doze Patriarcas é um livro que recolhe, ao longo dos séculos, valores que não podem faltar na educação: a simplicidade de coração; o amor ao próximo; o perdão das ofensas; a observância da Lei; o controle da vida e do desejo sexual. A vida desregrada causa o fim do judeu.

O sexo e a sua prática desregrada, a fornicação, recebeu igual importância nos códigos da Pureza e da Santidade (Lv 11-14 e 17-26) que tratam esses temas com muito rigor. Eles exigiam punição para os que transgredissem as normas. A fornicação era considerada um pecado grave pelo fato de ela levar o homem à impureza, isto é, o sexo não praticado com o fim da procriação fazia com que o homem eliminasse a vida no sêmen, causando a morte, que é impura. E o contato com a impureza era igualmente coisa gravíssima para o judeu. Desta mesma forma se pode interpretar também a menstruação feminina, a qual coloca a mulher na condição de impura.

A ligação da simplicidade de coração com a agricultura, no Test. de Isacar, evidencia a relação conflituosa que se dava no helenismo entre a cidade e o campo em detrimento da agricultura, bem como do fascínio grego pela cidade provocado nos judeus, no séc. II a.E.C.

Eclesiástico influenciou sobre Testamento dos Doze Patriarcas, com destaque para os Testamentos de Neftali e Aser.     

 

4.5 Cartas de Paulo a Sêneca

 

Escrito, possivelmente, entre os anos 320 e 380 da E.C., essas cartas apócrifas, atribuídas a Paulo, são uma justificação do cristianismo sobre a filosofia pagã. Elas fazem de Sêneca um cristão paulino.

Sêneca, filósofo romano e moralista estoico, exerceu forte influência no seu tempo. Viveu entre os anos 4 a.E.C. a 64 E.C. Morreu envenenado a pedido do imperador Nero. São Jerônimo considerava autênticas essas cartas, mas estudos mostram que elas não eram nem de Paulo, nem de Pedro, embora em algumas delas até apareçam o dia e data da carta: “Escrito no dia 27 de junho, no ano III do consulado de Nero e Messala (58 E.C).”

Paulo afirma estar semeando uma boa semente em Sêneca, terreno fértil para a Palavra de Deus. Paulo diz a Sêneca:

Deves te tornar um novo arauto de Jesus Cristo, manifestando com a perfeição da retórica, a sabedoria perfeita à qual atingistes e que apresentarás na casa do rei temporal e aos membros de sua casa e aos seus amigos de confiança, que acharás difícil ou impossível convencer, já que muitos deles não estão influenciados em nada pela tua apresentação.” Essas cartas querem também mostrar como Paulo era bem aceito nos círculos filosóficos”. [14]

 

Na época desse apócrifo, o cristianismo passa a ser objeto de discussão e interesse pelos filósofos e governantes gregos e romanos. Por isso, Paulo é apresentado nessas cartas endereçadas ao filósofo Sêneca como amigo da Sophia (sabedoria) e responsável pela conversão de Sêneca ao cristianismo. Através de Sêneca, as obras literárias de Paulo são lidas para o imperador, que passa a admirar Paulo.

Assim, o cristianismo de Paulo é apresentado como superior ao pensamento das filosofias gregas e pagãs. O cristianismo chega ao império por obra e graça do pensador Paulo de Tarso. Esse movimento apócrifo das cartas entre Paulo e Sêneca complementou a postura do cristianismo hegemônico de querer chegar ao mundo filosófico e aos altos escalões do império romano.[15]

 

  1. 5.     Conclusão

 

O caminho histórico da educação grega e seus reflexos no judaísmo e no cristianismo evidenciaram que essas duas grandes religiões monoteístas são devedoras da Paideia helenística. Não há como falar de cultura judaica e cristã sem levar em consideração o helenismo. Há um encontro cultural paidético que resultou em uma cristandade helenizada e uma civilização grega cristianizada

Os textos bíblicos, canônicos ou apócrifos são reflexos do pensamento grego helenístico em vista da formação, seja posicionando-se favorável ou contrariamente aos valores éticos e filosóficos, seja reafirmando seus princípios religiosos já previamente estabelecidos, no caso do judaísmo, ou construídos a partir do pensamento grego helenístico e judaico, como no caso do cristianismo.

A educação judaica se preocupou, num primeiro momento, com o ensinamento nas famílias, passando para a escola dos sábios judeus, os quais resgataram a tradição, a Lei e os profetas. Aprender é aprender a ser puro, temer a Deus, ser submisso a Ele, de onde vem toda fonte e o centro da vida, e viver valores morais.

A vivência dos cristãos e o ensinamento que eles ministravam sobre o evento Jesus ganharam contornos judaicos e gregos. Os valores morais ensinados no judaísmo não deixaram de existir, mas ganharam novas feições. No entanto, no século II, quando o cristianismo estava em franca expansão, ele é acusado de educar seus seguidores a ter uma adesão incondicional pela fé em Jesus ressuscitado, sem a devida consciência crítica que decorre do uso da razão, a qual os gregos ensinavam, de modo que o homem pudesse pensar, questionar e tornar-se livre. A elite pensante greco-romana disparou o seu flanco contra os cristãos, acusando-os de canibais e subversivos políticos.[16]  

O cristianismo, também visto como “filosofia dos bárbaros”, tinha entre seus quadros emergentes de pensadores aqueles que defendiam a sua helenização – Justino e Atenágoras –, e aqueles que eram contra – Taciano e Tertuliano. Posteriormente, outros dois pensadores, Clemente e Orígenes, em Alexandria, no Egito, conceberam uma “teologia cristã”. Orígenes, partindo da Bíblia, repensou o cristianismo a partir da filosofia grega, conferindo ao cristianismo a respeitabilidade intelectual entre os filósofos.[17]

Clemente e Orígenes selaram o encontro do cristianismo com o helenismo. O cristianismo passou a ser a paideia verdadeira e única. As verdades de fé têm sua fundamentação filosófica. Desse modo, a paideia, a educação intelectual grega, terá um papel fundamental na interpretação de textos bíblicos sagrados feita por teológos, agora os mestres na educação cristã.

Desse encontro histórico o resultado foi uma teologia cristã que não pôde ocultar sua dívida com a erudição clássica. Pregava-se uma nova paideia que tinha em Cristo seu ponto vital e ao mesmo tempo preparavam-se os andaimes de uma nova civilização, a civilização cristã. No entanto, foi o padre capadócio, Gregório de Nisa, que foi capaz de ver todos os aspectos da paideia grega como modelo de formação humana, e transformá-la numa paideia cristã, entendida como deificatio, um processo de elevação espiritual que reintegra o homem da queda, criado à imagem e semelhança de Deus, no divino. O ser humano passa a ter graus de um caminho místico do conhecimento de Deus que deverá seguir e aprender com a educação cristã, baseada na Bíblia, sobretudo nos Salmos e Epístolas de Paulo. A formação do homem cristão, originada da paideia grega helenística, passou a ser entendida como radical mudança interior do homem caído, cada vez mais conforme ao modelo divino, complementado pela graça, a cooperação divina na falta de conhecimento humano que o levava a agir mal.[18]

O cristianismo, fazendo-se valer da sua capacidade de levar as pessoas a uma conversão rápida e eficaz, bebeu da intelectualidade do mundo grego e dela se aproveitou para tornar-se universal. A nova forma de educar seus seguidores fez do cristianismo uma religião atraente para gregos e romanos, com a proposta de espiritualidade, já que os filósofos gregos, tão imbuídos do uso da razão, acabaram deixando essa lacuna na formação de seus seguidores.

O cristianismo das origens soube, no confronto com o helenismo, apregoar e fazer valer seus valores humanistas, devidamente fundamentados teoricamente e espiritualmente ensinados a partir de uma pedagogia também paidética e, o que é mais relevante, em meio a um mundo de tradição e pensamento grego. E daí o segredo de sua universalização.

Em relação ao judaísmo, além de provar a sua relação intrínseca, o cristianismo manteve-se na tradição judaica do ensinamento da Torá e dos Profetas, demonstrou que Jesus era o messias esperado, bem como escreveu evangelhos, cartilhas da “Boa Nova” que deveriam ser vividas e ensinadas mundo afora, com a autoridade da Bíblia e o uso da razão. Nasceu, assim, com um rosto cristão, a paideia, a formação geral e humanista com o sabor da espiritualidade.

 

6. Referências

 

BRIGHT, John. História de Israel. São Paulo: Paulus, 1980.

 

C. R. B. Sabedoria e poesia do povo de Deus. Tua Palavra é Vida, vol. 4. São Paulo: Loyola 1995.

 

FARIA, Jacir de Freitas. Apócrifos aberrantes, complementares e cristianismos alternativos. Poder e Heresias! Introdução crítica e histórica à Bíblia Apócrifa do Segundo Testamento, 2 ed. Petrópolis: Vozes, 2009.

 

FARIA, Jacir de Freitas. A morte como sentido de vida em Eclesiastes. In.: O povo sabe das coisas. São Leopoldo: CEBI, 2006.

 

FARIA, Jacir de Freitas. Israel e Palestina em três dimensões: história, geografia e cultura/judaísmo, cristianismo e islamismo. Belo Horizonte: Província Santa Cruz, 2010.

 

FILHO, Juvenal Savian. O epicurismo e a ética: uma ética do prazer e da prudência. Bioethikos, vol. 3, n. 1. São Paulo: Centro Universitário São Camilo, jan/jun 2009, p. 10-17.

 

GARMUS, Ludovico. Educação dos filhos nos livros sapienciais. Estudos bíblicos, 85. Petrópolis: Vozes, 2005.

 

LIMA Vaz HC. Escritos de filosofia IV: Introdução à Ética Filosófica 1. São Paulo: Loyola, 1999.   

 

MACIEL, Gilda Naécia. Cristianismo primitivo e paideia grega. Jornal O Estado de S. Paulo, 21/9/1975.

SACCHI, Paolo. Apocrifi dell’Antico Testamento, vol. 2. Milão: Associati S.p.A., 1993.

 

WERNER, Jaeger. Early Christianity and Greek Paideia. Harvard, 1960.

 

WERNER, Jaeger. Paideia: a formação do homem grego. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

 

 

 

 


[1]Doutor em Teologia Bíblica pela Faje (BH). Mestre em Ciências Bíblicas (Exegese) pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma. Professor de Exegese Bíblica. É membro da Associação Brasileira de Pesquisa Bíblica (ABIB). Sacerdote Franciscano. Autor de dez livros e coautor de quinze. Último livro: O Medo do Inferno e arte de bem morrer: da devoção apócrifa à Dormição de Maria às irmandades de Nossa Senhora da Boa Morte (Vozes, 2019). Youtube: Frei Jacir Bíblia e Apocrifos. https://www.youtube.com/channel/UCwbSE97jnR6jQwHRigX1KlQ 

[2] Entendemos como Bíblia Apócrifa os 140 outros livros que não foram considerados inspirados, escritos entre o século II antes da Era Comum (a.E.C.) até o séc. VIII da Era Comum (E.C.). Para uma compreensão desses textos na perspectiva histórica e sua classificação, sugerimos o nosso livro: Apócrifos aberrantes, complementares e cristianismos alternativos – Poder e Heresias, 2 ed. Petrópolis: Vozes, 2009.  

[3] Usamos a terminologia antes da Era Comum (a.E.C.) e era comum (E.C.), bem como Primeiro e Segundo Testamento (PT e ST), por razões ecumênicas com nossos irmãos judeus.    

[4] FILHO, Juvenal Savian. O epicurismo e a ética, 2009, p. 10-17.

[5] LIMA Vaz HC. Escritos de filosofia IV, 1999.   

[6]GARMUS, Ludovico. Educação dos filhos nos livros sapienciais, 2005, p.36-37.

[7] BRIGHT, John. História de Israel, 1980, p. 561-563.

[8] Nesse sentido, confira também as obras de Flávio Josefo e a História Eclesiástica, de Eusébio.

[9] Para um estudo e compreensão dessa literatura em seu contexto histórico, sugerimos a leitura do nosso livro: Apócrifos aberrantes, complementares e cristianismos alternativos: Poder e Heresias! 2ª ed. Petrópolis: Vozes, 2009.

[10] C. R. B., Sabedoria e poesia do povo de Deus, Tua Palavra é Vida, vol. 4. São Paulo: Loyola, 1995.

[11] FARIA, Jacir de Freitas. A morte como sentido de vida em Eclesiastes, 2006, p. 90-100.

[12] FARIA, Jacir de Freitas. A morte como sentido de vida em Eclesiastes, 2006, p. 97.

[13] SACCHI, Paolo, Apocrifi dell’Antico Testamento, 1993, p. 321.

[14] FARIA, Jacir de Freitas, Apócrifos aberrantes, complementares e cristianismos alternativos, 2009, p. 139.

[15] Idem, p.140.

[16] WERNER, Jaeger. Early Christianity and Greek Paideia, citado por Gilda Naécia Maciel de Barros in.: Cristianismo primitivo e paideia grega, jornal O Estado de S. Paulo, 21/9/1975.

[17] FARIA, Jacir de Freitas. Apócrifos aberrantes, complementares e cristianismos alternativos, 2009, p.121.

[18] MACIEL, Gilda Naécia. Cristianismo primitivo e paideia grega, 1975.