Jo 2,1-1 A Mãe de Deus em Caná da Galileia e em Aparecida do Norte

 

A intervenção da Mãe de Deus em Caná da Galileia e em Aparecida do Norte na inspiração de Jo 2,1-11

 

 

 

Frei Jacir de Freitas Faria, OFM[1]

 

Hoje, o Brasil católico celebra o dia de Nossa Senhora Aparecida, nossa padroeira, e também o dia das crianças. Mãe e crianças estão no mesmo patamar. O texto que inspira a nossa reflexão é Jo 2,1-11, as bodas de Caná. Começo com uma inquietação: ainda faz sentido celebrar Nossa Senhora Aparecida num país que já foi, mas não é mais, na sua quase totalidade, católico?

 

 

Estamos diante de dois acontecimentos semelhantes: o das bodas de Caná e Aparecida do Norte. Ambos têm em comum, na sua origem, uma festa. Jo 2,1-11 relata o terceiro dia de uma festa de casamento que durava sete dias, na pequena Caná da Galileia. Jesus e Maria eram convidados. O vinho tinha acabado. Jesus, a pedido de sua mãe, transforma a água em vinho, de modo que a festa pudesse continuar. No milagre de Aparecida, trata-se de uma festa que os donos de fazendas do vale do Paraíba queriam oferecer para o futuro governador das capitanias de São Paulo e Minas de ouro, Dom Pedro Miguel de Almeida Portugal, que estaria de passagem pela região, naquele então mês de outubro do Brasil Colônia. Os senhores fazendeiros da região exigiram e ordenaram a três pobres pescadores que pescassem todos os peixes possíveis no rio Paraíba do Sul para serem oferecidos na festa. Era o ano de 1717. Uma noite inteira de pesca, e nada. No fim da noite, uma imagem quebrada de Nossa Senhora da Conceição é pescada por João Alves em dois momentos: primeiro, o corpo e, depois, a cabeça. Logo em seguida, quando a rede é lançada novamente, ocorre o primeiro milagre: uma rede abarrotada de peixes que garantiria a festa no povoado e livraria os pescadores de castigos. Esse relato de pesca milagrosa ocorreu também com os apóstolos (Lc 5,4-7). Interessante que o peixe era o símbolo com o qual os primeiros cristãos se identificavam por medo da opressão romana. As iniciais de peixe em grego antigo (ἰχθύς) formam o acróstico: Jesus Cristo, Filho Deus, Salvador!

 

No relato da festa de Caná, as promessas divinas se cumprem em Jesus, o vinho novo, o novo esposo de Israel que, simbolicamente, está celebrando a sua festa de matrimônio. Jesus, depois de Caná, realizou outros seis sinais, os quais revelam a sua pessoa e missão. A Nossa Senhora da Conceição Aparecida realizou outros quatro milagres: o das velas da sua capela que se apagam e se acendem sem intervenção humana; o das correntes do escravo fugitivo que se abrem; o das patas de um cavalo que grudam nas escadaria da igreja, quando seu cavaleiro queria desafiar a santa, entrando no recinto sagrado; e o da menina cega que foi curada. Com o evento de Aparecida, Maria passou a ser presença na história do Brasil. A partir de Caná, Jesus inicia a sua ação evangelizadora que chegou ao Brasil.  

 

Para concluir, voltando à pergunta inicial, respondo. Ainda que a mãe Aparecida tenha recebido de presente o manto e a coroa da princesa Isabel, bem como o título de rainha e padroeira do Brasil pelo Papa Pio XI, em 1930, ainda que o Brasil não seja mais tão católico, vale a pena continuar celebrando a sua festa no Brasil, pois ela é a mãe que ama os seus filhos com amor maternal, que constantemente nos afaga nos cobre com seu manto de ternura. A Senhora Aparecida, a negra mariana, é, e sempre será, a nossa mãe, que, de escondida, apareceu das águas, para nos devolver a festa da vida! Além disso, todos nós somos eternamente crianças, desejosos de um colo de mãe. E quem não o é? Viva a mãe de Deus e nossa, a Senhora Aparecida!

 

 

 

Convite: Inscreva-se no nosso canal: Frei Jacir – Biblia – Apócrifos  

 

https://www.youtube.com/watch?v=z7mkHXtkWq0&t=8s Nele você terá a oportunidade de acompanhar minicursos e aulas sobre os livros da Bíblia e os apócrifos. Espero por você!

 


[1] Doutor em Teologia Bíblica pela FAJE-BH. Mestre em Ciências Bíblicas (Exegese) pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma. Professor de Exegese Bíblica no Instituto Santo Tomás de Aquino (ISTA-BH). É membro da Associação Brasileira de Pesquisa Bíblica (ABIB). Sacerdote Franciscano. Autor de dez livros e coautor de quatorze. Último livro: O Medo do Inferno e arte de bem morrer: da devoção apócrifa à Dormição de Maria às irmandades de Nossa Senhora da Boa Morte (Vozes, 2019). Coautor de: A releitura do Deuteronômio nos evangelhos. In: KONINGS, Johan; SILVANO, Zuleica Aparecida. (Org.). Deuteronômio: Escuta, Israel. 1ed.São Paulo: Paulinas, 2020, v. 1, p. 187-230. Inscreva-se no nosso canal: https://www.youtube.com/watch?v=z7mkHXtkWq0&t=8s

a-intervencao-da-mae-de-deus-em-cana-da-galileia-e-em-aparecida-do-norte-na-inspiracao-de-jo-2-1-11.docx