Simbologias de Pentecostes em At 2, 1-13


Frei Jacir de Freitas Faria, OFM

 

Em Jerusalém celebrava-se a Festa das Semanas (Pentecostes), 50 dias depois da Páscoa. Era o dia 06 do mês de Sivan (no nosso calendário: 22 de maio), Jerusalém estava repleta de peregrinos. Todos teriam trazido as primeiras colheitas para serem ofertadas no Templo. A peregrinação até Jerusalém teria sido linda. Imagine grupos de pessoas caminhando juntos com cestos de uva, trigo, azeitonas, tâmaras, mel, e sendo acolhidos em Jerusalém ao som de harpa, flauta e recitação de Salmos.

 

Todos carregavam dentro de si o desejo de agradecer a Deus pelas primeiras colheitas e comemorar o “dom da Torá” (Lei), dada ao povo no monte Sinai. Comemorar o recebimento da Torá era o mesmo que afirmar: no dia de sua revelação eu também estava lá (Dt 5, 24). O ontem se torna hoje (Lc 4). Assim, em Jerusalém estavam todos. E todos presenciaram a vinda do Espírito Santo. Como podemos interpretar esse episódio narrado por Lucas? Não estaria aí uma releitura do evento Sinai? Vamos procurar responder essas questões perguntando-nos pela simbologia no texto.

 

Casa em Jerusalém. A vinda do Espírito Santo ocorre, segundo a tradição, em uma casa de dois andares, na cidade de Jerusalém, a qual se situa sobre o monte Sião. Esses dois detalhes evocam claramente o monte Sinai, local onde Moisés recebeu com o povo os 10 Mandamentos.

 

Línguas. Lucas substitui voz que aparece na narrativa do Sinai para língua. Esses termos são semelhantes e ambos se referem à Palavra. A Palavra é a presença de Deus. Língua e linguagem têm o mesmo sentido no texto. Alguém fala e outro entende. O milagre de Pentecostes consiste no fato que todos entendem os apóstolos na sua própria língua e cultura. É o mesmo que dizer: a evangelização se realiza com sucesso.

 

O “falar em línguas” (At 10,46; 19,6; 1 Cor 12,10.28.30; 14,2.4-6.9) aparece no texto em questão com o acréscimo de “outras línguas”. Lucas acrescentou esse “outras” para reforçar a sua intenção de evangelizar a “todos, no mundo todo”. Falar uma língua que ninguém entende não tem sentido nenhum, mesmo que chamem a isto de oração.

 

De fogo. Representa a manifestação de Deus. É um modo apocalíptico para dizer que Deus se manifestou (Ex 3,2-3; 13,21; 19,18). Deus acompanha o povo pelo deserto numa coluna de fogo que iluminava a noite (Ex 13,20-22). Deus desce para falar com o povo e Moisés no Sinai por meio de um fogo (Ex 19,18). Em Atos dos Apóstolos o Espírito Santo é o fogo da Palavra de Jesus que deve ser anunciada pelos seus seguidores.

 

Multidão. Simboliza o povo no deserto que recebeu as tábuas da Lei. Em Pentecostes eram três mil, número não exato, e provinham de 12 povos e 3 regiões.

 

Vendaval impetuoso. Simboliza a manifestação de Deus. É a “violência” do Espírito que leva a comunidade a ser profética e missionária.

 

Estão cheios do vinho doce. Esta acusação simboliza os que não estão abertos ao novo da comunidade cristã.

 

Lucas descreve o acontecido em Pentecostes tendo na memória a narrativa do Sinai. Era preciso demonstrar que um novo Sinai estava acontecendo na comunidade cristã de Jerusalém, por meio do Espírito Santo, prometido por Jesus. Pentecostes passa a ser o batismo da comunidade cristã, sendo assim confirmada na missão de ir e evangelizar o mundo. Mais do que um dado histórico, Pentecostes é uma profissão de fé. Sem Pentecostes, a Páscoa (Passagem) em Jesus para uma nova vida não estaria completa.